Na
escola em que estudava todo bimestre tínhamos que ler clássicos da literatura
brasileira, confesso que nem todas as vezes conseguia adquirir o gosto pelo
livro, afinal, a escola passava muitos livros para pouco tempo, no entanto, um
dos que ficou na minha memória foi “capitães da areia” de Jorge Amado, quando o
li, houve um encontro comigo mesma, parava a cada instante para pensar na minha
vida confortável e nas injustiças do mundo.
O livro
mostra a realidade de meninos abandonados pelos pais, órfãos ou incentivados
pelos amigos a fugir de casa. Relata a realidade da época em relação ao
reformatório, onde os jovens eram maltratados, e a visão de mundo desses
garotos, que preferem ficar na rua ao invés de ir para o orfanato.
Trechos
retirados da parte do livro em que Pedro Bala (Chefe do grupo, os capitães da
areia) vai é levado ao reformatório:
[... -- Agora os jornalistas já
foram, moleque. Tu agora vai dizer o que sabe queira ou não queira.
O diretor do reformatório riu:
-- Ora, se diz...
O investigador perguntou:
-- Onde é que vocês dormem?
Pedro Bala o olhou com ódio:
-- Se tá pensando que eu vou
dizer...
-- Se vai...
-- Pode esperar deitado.
Virou as costas. O investigador fez
um sinal para os soldados. Pedro Bala sentiu duas chicotadas de uma vez. E
o pé do investigador na sua cara. Rolou no chão, xingando.
-- Ainda não vai dizer? --
perguntou o diretor do reformatório. -- Isso é só o começo.
-- Não.
Agora davam-lhe de todos os lados.
Chibatadas, socos pontapés. O diretor do reformatório levantou-se,
sentou-lhe o pé Pedro Bala caiu do outro lado da sala.
Nem se levantou. Os soldados vibraram os
chicotes...]
[... Ouviu o Bedel Ranulfo fechar o
cadeado por fora. Fora atirado dentro da cafua.
Era um pequeno quarto, por baixo da escada,
onde não se podia estar em pé, porque não havia altura, nem tampouco
estar deitado ao comprido, porque não havia comprimento. Ou ficava
sentado, ou deitado com as pernas voltadas para o corpo numa posição
mais que incômoda. Assim mesmo Pedro Bala se deitou. Seu corpo dava
uma volta e seu primeiro pensamento era que a cafua só servia para o
homem-cobra que vira, certa vez, no circo. Era totalmente cerrado o
quarto, a escuridão era completa. O ar entrava pelas frestas finas e raras
dos degraus da escada. Pedro Bala, deitado como estava, não podia fazer o
menor movimento. Por todos os lados as paredes o impediam. Seus membros
doíam, ele tinha uma vontade doida de esticar as pernas. Seu
rosto estava cheio de equimoses das pancadas na polícia...]
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